O país está em crise desde 2009 mas só em 2010 é que um trio maravilhoso chegou cá e a verdadeira austeridade aterrou no país.
Muitos já falam na recuperação e já ninguém pensa nos comportamentos incorrectos que fizeram o país quase mergulhar no abismo completo. A culpa é do antigo Governo, por agravação da situação, mas também de muitos anos de más governações, quer públicas, quer domésticas. A culpa é da ilusão do luxo que todos pensam ter mas que só alguns é que têm.
Vejamos um exemplo: uma pessoa com um rendimento alto compra um telemóvel com alta tecnologia no valor de 600€. Uma pessoa da classe média com alguns rendimentos estáveis compra um telemóvel de 60€. Parace-me proporcional os gastos em relação aos rendimentos. Podemos esperar que a última pessoa troque dez vezes de telemóvel até conseguir gastar tanto como a primeira pessoa gastou de uma só vez.
No entanto, isto não acontece: o que acontece é que ambas as pessoas gastam 600€ no telemóvel e trocam-no de ano a ano. A pessoa com altos rendimentos não sofre, mas aquele que não tem dinheiro para gastar, como pode ter o mesmo hábito que o rico?
E estes hábitos continuaram, até que a torneira do crédito fechou e muitos foram deixados apenas com dívidas e nenhum seguro de pagamento. Mas, como um mal nunca vem só, o Estado tinha de ser como algumas famílias e obter luxos ainda maiores e completamente desnecessários. Quem brinca com euros pode não ficar tão mal, mas quem brinca com mil milhões de euros, não está a brincar com o fogo - está a brincar com uma bomba atómica.
O luxo tem de ser relativo ao rendimento. O luxo tem de ser ajustar ao rendimento, e nunca o contrário. Mas esta norma não foi seguida nem por alguns famílias, nem pelo próprio Estado - e como poderemos confiar o nosso dinheiro ao Estado se esse maior exemplo não teve aulas de gestão básicas?
Tem de haver uma sensibilização dos cidadãos à poupança, um maior exemplo do Governo e um workshop completo de gestão básica para as famílias e para políticos que ousem chegar ao poder.
Mas nem na solução parece haver equilíbrio. Só uma parte de 'todos' é que é vítima da austeridade - mas as vítimas da crise são aqueles que viveram dentro do seu luxo, pagaram os seus impostos e ainda terão de pagar os luxos do Estado e de outras famílias.
A justiça da austeridade para todos é injusta; porém a injustiça sabe de uma maneira diferente aos justos e aos responsáveis. Já se sabe como é a Justiça em Portugal - mas isso é outro filme, com uma troika completamente diferente.
Agora, nesta troika, o filme já tem mais preto do que branco, para aqueles que, mal ou bem, conseguiram ter uma vida de luxo, dentro do seu luxo.
Rita Amaral, 2012