quarta-feira, 28 de março de 2012

A Crise e a Ilusão do Luxo

O país está em crise desde 2009 mas só em 2010 é que um trio maravilhoso chegou cá e a verdadeira austeridade aterrou no país.

Muitos já falam na recuperação e já ninguém pensa nos comportamentos incorrectos que fizeram o país quase mergulhar no abismo completo. A culpa é do antigo Governo, por agravação da situação, mas também de muitos anos de más governações, quer públicas, quer domésticas. A culpa é da ilusão do luxo que todos pensam ter mas que só alguns é que têm.

Vejamos um exemplo: uma pessoa com um rendimento alto compra um telemóvel com alta tecnologia no valor de 600€. Uma pessoa da classe média com alguns rendimentos estáveis compra um telemóvel de 60€. Parace-me proporcional os gastos em relação aos rendimentos. Podemos esperar que a última pessoa troque dez vezes de telemóvel até conseguir gastar tanto como a primeira pessoa gastou de uma só vez.
No entanto, isto não acontece: o que acontece é que ambas as pessoas gastam 600€ no telemóvel e trocam-no de ano a ano. A pessoa com altos rendimentos não sofre, mas aquele que não tem dinheiro para gastar, como pode ter o mesmo hábito que o rico?


E estes hábitos continuaram, até que a torneira do crédito fechou e muitos foram deixados apenas com dívidas e nenhum seguro de pagamento. Mas, como um mal nunca vem só, o Estado tinha de ser como algumas famílias e obter luxos ainda maiores e completamente desnecessários. Quem brinca com euros pode não ficar tão mal, mas quem brinca com mil milhões de euros, não está a brincar com o fogo - está a brincar com uma bomba atómica.

O luxo tem de ser relativo ao rendimento. O luxo tem de ser ajustar ao rendimento, e nunca o contrário. Mas esta norma não foi seguida nem por alguns famílias, nem pelo próprio Estado - e como poderemos confiar o nosso dinheiro ao Estado se esse maior exemplo não teve aulas de gestão básicas?
Tem de haver uma sensibilização dos cidadãos à poupança, um maior exemplo do Governo e um workshop completo de gestão básica para as famílias e para políticos que ousem chegar ao poder.

Mas nem na solução parece haver equilíbrio. Só uma parte de 'todos' é que é vítima da austeridade - mas as vítimas da crise são aqueles que viveram dentro do seu luxo, pagaram os seus impostos e ainda terão de pagar os luxos do Estado e de outras famílias.

A justiça da austeridade para todos é injusta; porém a injustiça sabe de uma maneira diferente aos justos e aos responsáveis. Já se sabe como é a Justiça em Portugal - mas isso é outro filme, com uma troika completamente diferente.
Agora, nesta troika, o filme já tem mais preto do que branco, para aqueles que, mal ou bem, conseguiram ter uma vida de luxo, dentro do seu luxo.

Rita Amaral, 2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Um Plano Simples - Fazer Uma Festa


São dez da noite e a plateia do Coliseu nem está pela metade. Ainda assim, a banda Simple Plan faz a sua debut em Portugal, dez anos depois da sua estreia no mundo da música.

"Shut Up" abre as hostes com um ritmo rápido e divertido mas a banda parece não devolver a mesma energia ao público. Porém, já na terceira música, também bastante ritmada do segundo álbum lançado em 2004, o Coliseu já está mais quente e a banda já revela a sua energia em palco e a sua descontraída conversa com o público.

Apesar do enorme amor demonstrado ao público e da sua relação muito próxima com este, a verdade é que os Canadianos parecem vir demasiado tarde. Quem em 2002 tinha doze anos, agora já passou os vinte, e já não parece ligar muito aos dramas adolescentes explorados nas letras do quinteto. Num domingo à noite, a sala enche-se de raparigas que devem ter no máximo 15 anos, de mulheres acompanhadas com os namorados que foram à força e, surpreendentemente, de alguns homens, uns adolescentes, outros já perto dos 30, mas que parecem ter ido calhar na sala por puro divertimento.

E mesmo o Coliseu não estando cheio, a noite provou ter alguns momentos especiais para um simples concerto. A música "Thank You" foi alterada - o refrão foi cantado com a mudança da letra para 'Obrigado' e ainda houve uma fã sortuda, uma Mariana, que conseguiu ter os parabéns cantados pelos canadianos e pelo público. Ainda assim, aquilo que mais deve ter apanhado o público foi a conversa um tanto erótica do baixista David Desroiers e um medley que contemplou as músicas de Maroon 5, Taio Cruz e LMFAO, onde o vocalista Pierre Bouvier brindou o público feminino com o levantar da tshirt preta e a mostra dos seus abdominais definidos.

Passando por várias músicas do primeiro e do álbum mais recente, a noite acabou com a música mais esperados por todos - a balada "Perfect", tocada com uma introdução acústica, fez algumas raparigas chorarem e muitos relembrarem o que é ser adolescente e sentir-se incompreendido.

A noite assim fechou. Uma noite que ficou por um público a metade e que trouxe uma banda energética com um plano muito simples - tornar um concerto numa festa entre amigos.