Número de interrupções de gravidez diminuiu no ano passado
Mais de cem jovens com menos de 15 anos fizeram um aborto em 2010. Houve 101 raparigas com idade inferior a 15 anos a abortar o ano passado, um número que não foge à tendência, já que em 2009 os casos de interrupção da gravidezdos 15 anos chegaram aos 128. Mas, a verdade, é que esta situação continua a preocupar. "Continuam a faltar políticas preventivas. Não são os nossos jovens que são diferentes. Não tem é havido investimento suficiente no ensino aos jovens a partir dos 11, 12 anos, sobre os métodos de prevenção de uma gravidez", critica Luís Graça, director do serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, Lisboa. O director ainda acrescenta que os números, apesar de alarmantes, vão ao encontro das estatísticas sobre gravidez na adolescência: Portugal tem a segunda maior taxa da Europa.
No entanto, apesar dos dados que são preocupantes, os números globais do relatório dos registos das interrupções da gravidez de Janeiro a Dezembro de 2010, ontem publicados na página da Direcção-Geral de Saúde (DGS), apontam para uma tendência decrescente do número de abortos praticados por via legal. Pela primeira vez os números descem desde que o aborto foi despenalizado.
Em 2010 foram feitos cerca de 18 mil abortos por opção da mulher, menos 311 que no ano anterior. Em 2009 o número tinha subido para mais de 19 mil, contra os 18014 de 2008.
Para Luís Graça os números são um sinal de que três anos e meio depois da legalização, Portugal está a seguir o padrão de outros países europeus onde a prática foi despenalizada. "É um óptimo sinal, porque a tendência dos outros países foi para uma estabilização e depois para um decréscimo. Na Dinamarca, por exemplo, ao fim de três anos os números também começaram a diminuir", explica.
As 18 911 interrupções da gravidez registadas em 2010 excluem os casos em que o aborto foi feito devido a malformação do feto, por perigo de lesão da grávida ou quando a gravidez resultou de um crime contra a liberdade e autodeterminação sexual. Somados estes casos, foram praticados por via legal 19436 abortos, um número que continua a ser inferior ao de 2009 (19848).
É interessante notar que quase um quarto das mulheres que optou pela interrupção da gravidez em 2010 (24,5%) é reincidente: já tinha feito pelo menos um aborto antes. Desse total, 1,8% (340 mulheres) fizeram dois abortos no ano de 2010, 6,3% tinham realizado outra interrupção da gravidez em 2009, 4,6% em 2008 e 11,74% antes de 2008.
A taxa de reincidência continua a desiludir aquele que foi um dos principais defensores da aprovação da lei em 2007. Luís Graça continua a desabafar ter sido "ingénuo" ao pensar que as mulheres iriam "estimar uma lei feita para salvaguardar a sua saúde". Além dos casos evidentes de negligência, as reincidências mostram existir ainda "falta de informação e muita informação deturpada sobre os métodos anti-concepção". Apesar de as mulheres serem reencaminhadas após um aborto para uma consulta de planeamento familiar, "só um terço é que comparece", lembra o obstetra.
Dois terços das interrupções da gravidez feitas em 2010 ocorreram em mulheres com idades entre os 20 e os 34 anos. Mais de 60% tinham um ou mais filhos: quatro tinham pelo menos dez.
(Fonte: iOnline)
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