sexta-feira, 25 de março de 2011

Internacional




Presidente do Iémen oferece o poder mas só “em mãos seguras”

  O Presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh , que assiste há várias semanas a uma contestação sem precedentes nos seus mais de 30 anos de regime, disse hoje estar preparado para entregar o poder, para evitar maior derramamento de sangue, mas apenas no que descreveu como “mãos seguras”.

  “Nós não queremos o poder, mas temos que o entregar em mãos seguras, não em mãos doentes, ressentidas e corruptas. Estamos prontos para abandonar o poder, mas apenas deixando-o em mãos seguras”, insistiu num discurso transmitido esta manhã pela televisão estatal, quando as ruas da capital, Sanaa, se enchiam de dezenas de milhares de manifestantes da oposição para uma “Sexta-feira da partida”.

  Saleh frisou que ao fazer concessões políticas – que tem vindo a aumentar ao longo das últimas semanas – o objectivo é “garantir que não há derramamento de sangue”. “Somos contra disparar nem que seja uma só bala”, assegurou, quando a contestação no país se arrasta já há mês e meio. O Presidente não abriu mão, porém, de algum tom de desafio, prometendo resistir com “tenacidade e usar todo o poder” de que dispõe “contra aqueles que querem [a violência]”.

  Ao longo dos últimos dois dias, Saleh teve várias reuniões com o antigo comandante da zona militar noroeste, o influente general Ali Mohsen, o qual declarara recentemente o seu apoio aos manifestantes anti-regime. “Mohsen veio explicar por que razão fez o que fez e pedir garantias de que nada acontecerá contra ele”, foi anunciado pelo porta-voz presidencial Ahmed al-Sufi à agência noticiosa britânica Reuters. Fontes políticas em Sanaa adiantaram sob anonimato à francesa AFP que estariam em curso negociações entre o Presidente e o chefe militar dissidente que “falharam”.

  Entretanto, testemunhas em Sanaa relatam que o exército iemenita disparou hoje para o ar, na tentativa de manter separados os manifestantes contra o regime – que planeavam caminhar até ao Palácio Presidencial – daqueles que apoiam o Presidente.

  Logo pela manhã, as forças de segurança estavam reforçadas na capital, na expectativa da manifestação maciça convocada pela oposição, a qual exige o imediato afastamento de Saleh, sem aceitar qualquer das concessões políticas por este já feitas ao longo das últimas semanas de convulsão no país.

  Tanto as forças leais ao Governo como as que apoiam a oposição – para a qual se mudaram importantes figuras militares e diplomatas – montaram postos de controlo por toda a cidade, e as ruas estavam repletas de homens armados fazendo temer os mais violentos confrontos, foi observado pelo correspondente da BBC.

  A actual crise no Iémen, que eclodiu na esteira das revoluções que depuseram nos últimos meses os chefes de Estado da Tunísia e Egipto, salda-se já com um balanço de 50 vítimas mortais, tendo a oposição abandonado as hipóteses de negociar com as autoridades quando as forças de segurança começaram a reprimir violentamente protestos pacíficos em prol de reformas democráticas e sociais. A oposição exige mudanças constitucionais, a demissão do Governo assim como a dissolução dos serviços de segurança interna.

  Mesmo depois de Saleh ter oferecido sair de cena já no início do próximo ano – antecipando eleições presidenciais para Janeiro de 2012, em vez de em Setembro de 2013, quando termina o seu presente mandato – a oposição manteve pé firme. Tais promessas foram vistas como não mais do que “palavras ocas” e manteve-se a convocação da "Sexta-feira da partida", que se espera ser o maior protesto no país.



Foto: ionline

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